segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

O conto da Tristeza (cont. 1)

Está um pouco tarde. Parece que o hoje o céu está chorando, toda noite parece haver uma nova tristeza. Parece que sempre há algum motivo para se lamentar e por isso eu estou vivo. Só por isso que vivo? Porque sinto toda essa tristeza? É isso que me deixa vivo?

*Um homem andava no meio da rua sob a chuva e o céu sem luar. Trajava um terno antigo que remetia uma época de uma tecnologia bem precária, de um modo bem despojado e tinha bem encaixada em sua cabeça uma cartola um pouco larga, porém não muito alta. Seu rosto estava escondido sob uma espécie de máscara negra com formato de um rosto sem expressão alguma*

Será que devo punir aqueles que me tornam eterno e me fazem perdurar em tamanha tristeza?

*O homem continuou a caminhar ao longo da noite, falando consigo por todo momento e se alguém pudesse ouvi-lo seria capaz de enlouquecer ao sentir que havia uma terrível tristeza em suas palavras. E assim aconteceu a dois homens que arrastavam a força uma jovem. Seus corações foram acometidos de uma terrível sensação de dor e perda, que suas forças se esvaíram e fizeram com que a moça caísse ao chão, liberta. Eles tentaram correr quando a jovem escapava numa corrida desesperada, mas pararam ao perceber que um homem de estatura mediana segurava a jovem em seus braços. Beatriz estava abraçada a um homem que nunca havia visto em sua vida, a sensação de desespero era tão grande que ela não fazia idéia do que estava fazendo, e implorava para que um homem que nem mesmo tinha um rosto a ajudasse. Sua voz saía fraca entre o soluçar de seu choro, e suas mãos agarram com força as costas daquele homem que desceu como um anjo dos céus para protegê-la*

Quem sois vós, que levantam a mão para provocar a dor em tão singela dama? Quem vos deu o direito de infringir dor a terceiros? Eu vos mostrarei a dor do mundo, e vos mandarei ao inferno de onde nunca irão sair. Não terão perdão, pois terão de gastar todo vosso tempo em lamentações.

*Os homens não tiveram reação diante do homem que lhes dirigia a palavra, como se tivessem em um transe, eles permaneceram imóveis desde o momento em que estranho homem havia aparecido. Quando voltaram a si, apenas sentiam seus corpos batendo forte contra o chão enquanto suas vidas lhe foram sugadas sem que pudessem implorar por elas.*

*Beatriz não viu nada do que havia acontecido, pois havia desmaiado no momento em que o homem começou a falar. O homem considerou que esta era o melhor pra ela, pois talvez a visão que teria dos homens definhando aos poucos até morrerem lhe rendesse pesadelos para o resto de sua vida*

Durma singela como uma criança, flor branca. O alvorecer não mais te guardará surpresas desagradáveis. De hoje em diante velarei teu sono e nada de mal irá acontecer a ti.

*O homem contemplou a jovem que estava agora sendo carregada em seus braços e não disse nem mais uma palavra até que desapareceu com o fim da noite*

Um comentário:

Tyr Quentalë disse...

Não. Beatriz foi salva por um homem que não possui uma face. Quando os outros que causariam dor, encontraram a morte certa. mas quando o salvador de tão frágil dama diz que zelará por ela. Que forma ele ira fazer isso? Beatriz está realmente salva?